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Foto do escritorElizandra Souza

Gestão de pessoas na pós-modernidade

São inúmeros os problemas que afetam as organizações atualmente, mas um deles é, ao mesmo tempo, tão antigo quanto atual, que interfere em toda dinâmica da empresa, e é traduzido pela expressão ‘lidar com pessoas’. Contudo, cada tempo e cada sociedade tem sujeitos próprios que devem ser tratados de forma própria. Isto nos convida a refletir sobre duas questões: quem são os sujeitos atuais e como lidar com estes sujeitos.


Bauman, sociólogo polonês, radicado na Inglaterra, nos traz um novo conceito sobre o sujeito atual, que nos possibilita apreender quem é este ser de que tanto se fala e se estuda hoje. O sujeito líquido, advento da sociedade líquida é o termo cunhado pelo estudioso para designar este homem pós-moderno que está em constante transformação e que não tem uma forma (ou posição) fixa e delimitada. Seus estudam apontam as angústias humanas decorrentes da busca incessante pela perfeição, pelos objetos e pela felicidade.

Com o sujeito líquido, percebemos que os vínculos são fluidos e, portanto, frágeis. O sujeito líquido não cria relações estáveis, nem no âmbito particular, nem no profissional. As relações amorosas, por exemplo, não se constituem na solidez e são facilmente dissolvidas. Assim como, as relações de trabalho, que, aparentemente, não possuem valores tais que forcem o sujeito a considerar algum tipo de estabilidade. 

Antigamente, as escolhas, os comportamentos, os conceitos eram bem mais definidos e menos flexíveis. Hoje, com o advento da tecnologia e da comunicação, que avassalam na pós-modernidade, todos os conceitos, comportamentos etc são mais instáveis, volúveis, ou seja, a transformação é constante. Algo que é hoje, amanhã pode já não ser.

A nova forma de conceber o mundo é fruto da globalização que instaura o ilimitado, o mundo sem fronteiras. O acesso à informação, à comunicação e ao consumo são marcas registradas neste novo tempo.

A pós-modernidade nos traz a complexidade de um sujeito em contínua transformação, ao mesmo tempo que nos permite a facilitação dos acessos pela divulgação constante da norma do ‘tudo é possível’. O excesso de consumo traz uma certa ilusão de onipotência e premia o sujeito com uma depressão essencial, que indica a insuportável existência na impossibilidade do consumir.

No mundo atual os objetos são oferecidos de forma variada e em abundância, que ultrapassam as barreiras da demanda. A estratégia é constituir demandas, oferecendo objetos que passam a ser necessários quando aparecem.

Ao mesmo tempo, que os objetos são variados, as identidades também são diversificadas. Se, antigamente, tínhamos referenciais fixos de um ‘querer ser’, tal como o pai, a mãe, um tio, um médico, hoje somos interpelados por muitos estilos possíveis de ser. Neste contexto, os sujeitos atuais sofrem com a necessidade de definir uma escolha, o que acaba gerando muita angústia e dificuldade de amadurecimento, que ocorre em momento tardio.

O sujeito é fluído, pode estar aqui e lá ao mesmo tempo, pode “conhecer o mundo sem sair de casa”, mistura produções culturais e modos de vida. É um sujeito que parece ter identidades líquidas, ou identidades com todos os grupos, que na realidade não pertence totalmente a nenhum. A crise de identidade não está no conflito com outras identidades diferentes, não está nas dificuldades em aceitar o diferente. Está na não constituição de um si mesmo integrado.

Ora, se o sujeito não é estável e seu movimento é sempre em busca de alguma coisa, de forma rápida, pois este sujeito é impulsivo, como querer tratá-lo da mesma forma como se fez com as gerações anteriores? Como acreditar que os mesmos caminhos servirão para fazê-lo ‘vestir a camisa’ da empresa?

O que move o sujeito é seu desejo, que para além de uma vontade conhecida, é algo que se insere pelo pulsar, que desassossega e que deve ser o ponto a ser tocado para transformar sua posição na vida pessoal e profissional.

Portanto, o tema ‘gestão de pessoas” não pode deixar de considerar o estudo social e cultural destes novos tempos. Não é possível submeter o mesmo olhar a estes novos sujeitos que surgem na atualidade. Estamos em tempo de aprender sobre este novo “modus operandis” de ser, contudo, já é possível olhar e agir de outras formas a partir do entendimento do sujeito ilimitado. Não para tentar restaurar a um modo anterior, mas sim, para poder encontrar o melhor caminho de relações e de trabalho. 

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